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Consequências emocionais

Depois do AVC  >  Consequências emocionais

Cada pessoa lida de forma diferente com os efeitos de um AVC. Alguns efeitos são visíveis imediatamente, outros aparecem mais tarde. Tristeza, medo, e raiva são reações comuns a um AVC. Isto pode ser devido a mudanças biológicas ou bioquímicas no cérebro, bem como à reação emocional à forma como a vida pode mudar após o AVC.

Luto após um AVC 

 

Muitas pessoas passam por um processo de luto após um AVC. Muitas vezes é necessário aceitar as novas limitações e aceitar a perda da sua vida antes do AVC. No processo, pode-se passar por diferentes fases antes de finalmente chegar à aceitação. Isto é perfeitamente normal.

Manter um diário, falar sobre isso com amigos ou ter o apoio de um terapeuta pode ajudar. 

Auto-estima após um AVC 

 

Os efeitos de um AVC também podem afetar a sua autoestima. Pode ser especialmente difícil para os sobreviventes se o AVC tiver limitado a mobilidade e independência. 
Seja gentil consigo mesmo, evite a autocrítica e tente substituir os pensamentos negativos por pensamentos positivos.

Mudanças do comportamento e de personalidade após um AVC 

 

Após um AVC, podem surgir comportamentos diferentes, tais como a desinibição. Isto significa comportar-se de forma inapropriada ou mesmo infantil. Outras mudanças de comportamento incluem falta de empatia, perda do sentido de humor, ciúmes irracionais ou raiva. Fale com o seu médico sobre estas mudanças de comportamento, pois pode haver medicamentos que podem ajudar, se eles não interferirem no dia-a-dia e na sua recuperação. 

Depressão após um AVC 

 

A tristeza e o desânimo são comuns depois de um AVC. Contudo, cerca de um terço dos sobreviventes de AVC desenvolvem depressão, o que requer tratamento. As mulheres podem ter um risco ligeiramente maior do que os homens de desenvolver depressão após um AVC.
Tratar a depressão com uma combinação de medicação, psicoterapia e terapia de grupo pode melhorar o humor e também promover a recuperação física, cognitiva e mental.

Porque é que a depressão pode desenvolver-se após um AVC? 

 

Não se sabe exatamente se a depressão após um AVC tem predominantemente causas físicas ou psicológicas. Isto é porque um AVC danifica o cérebro, e este dano cerebral também pode mudar a forma como processamos as nossas emoções. Mas a depressão também pode ser uma reação às limitações físicas e mentais e à súbita perda de independência, o que é chamado de depressão reativa.

A depressão geralmente ocorre nas primeiras semanas após o AVC. Durante este tempo, os sobreviventes têm de aceitar a realidade de que a sua vida esteve ameaçada e recuperar do esforço físico. A médio e longo prazo, algumas pessoas têm de aprender a lidar com as possíveis limitações e as consequências destas para a vida diária. Isto pode levar algum tempo, e por vezes a depressão pode desenvolver-se apenas nessa altura.

A depressão é mais comum após AVC graves e em pessoas que já experimentaram depressão antes. A gravidade da depressão depende muitas vezes da gravidade das limitações físicas e cognitivas. Existem estudos que mostram que a situação social e as condições de vida também podem influenciar o desenvolvimento da depressão após o AVC. Se os sobreviventes e os seus familiares receberem um bom apoio terapêutico e social, isto também pode reduzir o risco de ficarem deprimidas.


Para algumas pessoas, a depressão desaparece por si mesma após algum tempo, mesmo sem tratamento. No entanto, a maioria das pessoas precisa de ajuda para superar a doença.
 

Como se pode reconhecer a depressão após um AVC? 

 

A depressão após um AVC pode ser reconhecida tal como a depressão "normal" através dos seguintes sinais:

  • Tristeza profunda

  • Perda de interesse

  • Indiferença

  • Falta de concentração

  • Baixa autoestima

  • Problemas de sono

  • Pensamentos negativos e pessimistas sobre o futuro

  • Pensamentos de suicídio

 

Se vários destes sintomas durarem mais de duas semanas, pode ser um sinal de depressão e é importante procurar aconselhamento médico.

Pode ser difícil saber a diferença entre a depressão e o desânimo provocado pela doença. Muitas vezes existem limitações da mobilidade e a independência que tornam o dia-a-dia mais stressante. Algumas pessoas podem apenas parecer deprimidas porque não conseguem expressar os seus sentimentos tão bem como antes do AVC. É por isso que é muito importante que as pessoas – familiares, amigos e profissionais - à sua volta estejam atentas a sinais de depressão.

Algumas pessoas após um AVC podem ter menos controlo sobre a expressão das suas emoções: podem de repente começar a chorar "sem motivo", por vezes até a rir. Ou são geralmente mais irritadiças e mal-humoradas ou reagem muito emocionalmente. Esta elevada emocionalidade é diferente da depressão - apesar de existirem certas semelhanças.
 

Quais são as consequências da depressão? 

 

A depressão pode não só reduzir significativamente a qualidade de vida, mas também atrasar a reabilitação após um AVC. Para as limitações relacionadas com a doença melhorarem também é necessária a cooperação ativa na terapia, por exemplo, na fisioterapia.

No entanto, a recuperação leva frequentemente muito tempo e requer muita paciência e motivação. Com a depressão, é mais difícil motivar-se e trabalhar tão arduamente para se recuperar como as pessoas não deprimidas podem. Tudo isto pode atrasar a reabilitação ou mesmo reduzir o desempenho físico e mental.

Quais são as opções de tratamento? 

 

A depressão é frequentemente tratada com medicamentos (antidepressivos) e/ou com procedimentos psicoterapêuticos. No entanto, o apoio diário de familiares ou cuidadores pode também desempenhar um papel importante no processo de reabilitação ou em lidar com as limitações permanentes.

O que é crucial é um tratamento bem organizado e uma reabilitação que ajude a melhorar as limitações causadas pela doença. Uma boa recuperação física pode, por sua vez, ter um impacto positivo na saúde mental.
 

Como é que as pessoas com depressão podem ser apoiadas? 

 

A reabilitação após um AVC é mais bem-sucedida se todos os envolvidos apoiarem intensivamente o tratamento - ou seja, profissionais de enfermagem, terapeutas e psicólogos, médicos e familiares. Aconselhamento e psicoeducação podem ajudar. A psicoeducação ensina os doentes e os seus familiares a compreender a doença e como lidar com as suas consequências.

Está também provado que a terapia ocupacional pode ajudar as pessoas a recuperarem certas funções corporais. Isto envolve a prática de tarefas diárias tais como lavar, vestir-se ou atividades domésticas. Exercício e treino de força também são importantes e podem até ajudar a melhorar os sintomas depressivos. Uma reabilitação bem-sucedida requer um elevado nível de motivação, mas pode fazer toda a diferença para a qualidade de vida após um AVC.

Simples tentativas de encorajamento ou conselhos não são normalmente úteis para as pessoas com depressão. Lidar com a doença requer muita empatia e paciência. Além disso, o estado de humor pode flutuar muito com a depressão.
 

Que tipo de apoio é importante para os familiares e cuidadores? 

 

Cuidar de um ente querido após um AVC pode ser muito desafiante e por vezes avassalador. A depressão também pode, portanto, desenvolver-se nos familiares e cuidadores.  Neste caso, torna-se mais difícil para os membros da família prestar o melhor apoio - o que, por sua vez, pode colocar stress adicional para todos. Cuidar do bem-estar do cuidador é, portanto, importante não só para o próprio cuidador e outros membros da família, mas também para o sobrevivente de AVC.

Existem várias opções de apoio, por exemplo associações e grupos de ajuda mútua, que podem fornecer ajuda aos sobreviventes e aos seus familiares com uma vasta gama de informações e suporte relacionadas com cuidados, aspetos financeiros ou psicossociais. 

 

Artigo da autoria da Drª Ana Sofia Costa, Neuropsicóloga.

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